quinta-feira, março 29, 2018

2 Pesos e 2 Medidas

Digo muitas vezes que eu sou um contrassenso, isto porque sou capaz de ter opiniões, sensações e reações diferentes com um determinado assunto.
As asneiras. Eu digo asneiras, todas as que podem imaginar.
No entanto, só digo a pessoas que são intimas, e não me refiro só à intimidade sexual, refiro-me a amigos (amigas) chegados, digo num contexto de brincadeira, porque acho que a asneira dá ênfase à mensagem que pretendo passar ou então porque estou profundamente irritada com qualquer situação e a asneira é uma espécie de catarse, mas não digo com o objectivo de insulto à pessoa que me está a ouvir, a intenção é de passar mensagens como "Caramba ou não é justo", e digo precisamente porque é mais enfático e também porque estou à vontade com a pessoa que ouve as minhas asneiras.

Evito sempre falar com alguém que gosto quando estou muito irritada com ela, porque aí as asneiras saem, não consigo evitar, e volto a dizer, não é com o objectivo de insultar, é exactamente o que referi anteriormente, mas quem ouve tem toda a legitimidade de se sentir insultado, por isso quando estou muito irritada isolo-me.

Depois há a asneira que é dita durante o ato sexual, aqui não me vou alongar, só digo que sabe bem dizer e ouvir, e portanto para quem tem pruridos fica a minha recomendação de experimentarem, não neguem à partida uma ciência que desconhecem.

Há também a asneira que é dita (gritada) nas pessoas designadas como "o povo", e eu não digo isto de uma forma pejorativa ou snob. É uma classe social, como qualquer outra, só que esta é genuína e eu aprecio. Não tem máscaras nem pretensões, é o que é.
No bairro onde eu moro há cerca de 2 anos, existe uma mescla de géneros, a varina, o cocó, o intelectual, o turista (muitos) e eu.
De vez em quando há a chamada "peixarada", com todas as asneiras gritadas a alto e bom som, depois lá vamos nós (vizinhos) para a janela assistir ao que se passa como se de uma serenata se tratasse, e acaba sempre tudo bem.

Existe porém a asneira que me irrita, aquela que me tira do sério. A asneira que é dita em locais públicos, num autocarro ou num café, e irrita-me não é por mim, é porque nesses locais existem sempre senhoras com idade para serem minhas mães ou avós e que ficam obviamente com um ar muito incomodado, porque essa treta de "uma senhora não tem ouvidos" é mesmo uma treta. Uma senhora tem ouvidos, tem é a postura de se fazer de surda.
Já eu, que não tenho papas na língua, sobretudo se for uma coisa que vejo estar a penalizar alguém de uma forma incorrecta, não me calo e faço questão de mostrar que ouço muito bem, um dia destes levo porrada... até lá vou "disparando".

No café onde costumo ir, estava um homem com ar de mafioso, que falava alto e dizia as piores asneiras possíveis... ouvi a primeira... ouvi a segunda... à terceira não me calei, "O senhor tenha tento na língua e não diga asneiras, estão aqui senhoras ou é cego?"... naquele momento pensei "é hoje que levo um tiro ou uma facada"... mas já estava dito.
Bom o "senhor" além de ordinário acho que era burro e não sabia o que significa a expressão "tento na língua", facto que o "desarmou", e na falta de argumentação gritou para mim "Eu vou-me embora daqui, não estou para levar com esta gente!"... eu ainda lhe disse "Já devia ter ido seu ordinário!"
... as senhoras ficaram todas a olhar para mim com um ar de agradecimento... senti até que tinham vontade de aplaudir-me, parecia que fazia parte, como protagonista claro, de uma qualquer cena de um filme... mas não tive direito a aplauso, não foi desta.
Ficaram os sorrisos de agradecimento, e ficou o meu alivio de ter colocado mais uma pessoa no seu lugar.

Um dia destes levo porrada.

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