quinta-feira, maio 10, 2018

A destruição dos afectos

Gosto de pessoas, no entanto cada vez gosto menos de pessoas e de menos pessoas.
Tenho vivido segundo um pressuposto errado, gosto de pessoas até prova em contrário. Isso traz dores e dissabores, mas sobretudo é injusto com as outras pessoas.
Partir do princípio que todos partilham dos mesmos princípios ou do mesmo carácter é de uma arrogância intelectual e emocional brutal.
As pessoas têm educações, forças, fraquezas, sensibilidades ou insensibilidades diferentes, simplesmente porque têm histórias de vida diferentes.
É injusto (generalizando) criar expectativas, porque espelhamos a nossa verdade e o nosso carácter no "outro"... e o "outro" não é o nosso reflexo.
É claro que também existem os casos que as expectativas são "plantadas" de uma forma despudurada e leviana... e são essas as pessoas que me entristecem... mas é uma tristeza que passa, e para minha tristeza passa cada vez mais rápido... tristeza porque a rapidez desta cura é uma espécie de descrença em relação às pessoas e isso é triste...
Desenvolvi uma espécie de "confio desconfiando" que me retira aquela ingenuidade que tanto apreciava em mim.
Existem no entanto pessoas, que não sei porquê, eu confio desde o primeiro momento... e gosto desde o primeiro momento... e torço para que não me decepcionem... é fé ou ainda alguma réstia de ingenuidade? Não sei...
Lá estou eu com os meus contrasensos... sim as pessoas são diferentes, mas há valores que (para mim) são universais quando se gosta de alguém... na amizade ou amor, é igual...
Ser-se grato, atento, preocupado...
"obrigada", "se faz favor", "desculpa", "precisas de mim?", "gosto de ti"... e tantas outras coisas que para mim são verdades universais não aplicadas. Incompetência? Egoísmo?
Não sei...
Sei que o acto de destruir afetos é muito mais fácil e corriqueiro hoje em dia que construir afectos.
Gosto de pessoas, mas cada vez gosto menos de pessoas e de menos pessoas.


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