sexta-feira, julho 20, 2018

A Construção dos afectos

Gosto de pessoas, no entanto gosto cada vez menos de pessoas e de menos pessoas.
Os afectos em mim "nascem" naturalmente... o normal é gostar até prova em contrário, disparate porque traz inevitavelmente chatices.
Gosto de pessoas independentemente das suas ideologias políticas, espirituais, filosóficas... gosto de pessoas ponto.
Gosto de formas diferentes e com intensidades diferentes...
Os afectos, tal qual as plantas devem ser tratados... cultivados.
Quando falo em afectos refiro-me à amizade e ao amor.
Cultivar é construir... às vezes dá trabalho, requer atenção mas se existe a intenção de construir, esse trabalho é normalmente saboroso.
Constato (generalizando claro), que a tendência da construção de afectos está em desuso... existe um egocentrismo que castra a atitude da construção, um "olhar só para o meu umbigo", eu própria caio várias vezes nessa tentação, não sou excepção. Quando me apercebo tento alterar a minha postura tornando-me mais proactiva... mas falho também.
Quando se gosta de alguém (amizade ou amor, é indiferente), é tão importante receber um
... olá!
... gosto de ti!
... como estás?
... quero estar contigo!
... estás melhor?
... lembrei-me de ti hoje!
Há tanta coisa imaterial que constrói os afectos.
Posso dizer que embora (como qualquer pessoa) sofra com a destruição de alguns afectos, tenho sido também privilegiada com a construção de vários afectos.
Escrevi há relativamente pouco tempo um texto sobre a desconstrução dos afectos, essa desconstrução não é sinónimo demissão, se existe o esforço da desconstrução, não pode ser desvalorizado, pelo contrário deve ser apreciado com mais intensidade...coisa que nem sempre acontece e que o resultado é a "morte" do afecto, e tem ou deve ser encarada com naturalidade.
A vida também é isto, nascer... crescer e morrer.
A construção dos afectos está a ser pouco praticada, mas não foi esquecida.
Gosto de pessoas, e gosto de gostar de pessoas.

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