terça-feira, fevereiro 14, 2006

A Pomba


Um livro de culto de muitas pessoas que conheço é «O Perfume» de Patrick Süskind. Aconselho vivamente que leiam "A Pomba", escrito pelo mesmo autor. Um pequeno conto que tem como figura central o porteiro Jonathan, que partilha a sua monótona, mas mesmo muito monótona existência entre a mansarda que habita e o banco onde trabalha. O protagonista vê de um momento para o outro a sua vida completamente abalada, quando encontra uma pomba ferida à entrada do seu quarto. Patrick Süskind constrói um conto fantástico a partir deste "encontro" entre um homem e um pássaro ferido.
ADOREI!!!!

Patrick Süskind: O primeiro romance de Patrick Süskind foi o livro «O Perfume» que imediatamente o celebrizou como autor e que continua a ser um livro de culto para sucessivas camadas de leitores atraídos por uma verdadeira obra-prima de ficção. Nesta novela, o porteiro Jonathan, figura central do livros, que partilha a sua monótona existência entre a mansarda que habita e o banco onde trabalha, vê de um momento para o outro a sua vida abalada quando um pássaro ferido tomba a seus pés. A partir deste "fait-divers", feito do encontro entre um homem e um pássaro ferido, Patrick Süskind constrói uma pequena maravilha.

HELENA ALMEIDA ... Intus

A exposição INTUS – Helena Almeida constituiu a representação portuguesa na 51ª Bienal de Veneza!!!
Como é que é possivel? Organizada pelo Instituto das Artes / Ministério da Cultura, esta exposição foi apresentada no Pavilhão Português, em Veneza, entre 10 de Junho e 6 de Novembro de 2005. Fui ver ... senti-me absolutamente aparvalhada!!! E não me cansava de repetir : Mas o que é "isto"? Estamos a ser reprentados desta forma? Arte?! Por favor!!!A explicação dada à exposição foi: "...uma dimensão quase religiosa e sacrificial, um registo de ritual e celebração animista; uma espécie de promessa subjectiva e individual feita não num momento de dificuldade ou de dor, mas num momento jubilatório." Vi também um video (preto e branco) em que Helena Almeida percorre de joelhos o seu atelier, de vez enquando beija o chão...de repente entra um elemento novo no filme ... um BANCO, a autora substitui o alvo beijado ... o chão é trocado pelo banco.
Palavras para quê?

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Autor do Poema Temperamental

Joaquim Pessoa, poeta português. Colaborador de várias publicações ligadas à literatura, como a Vértice, a sua poesia inicial denota ligações ao neo-realismo, bem como, mais explicitamente, ao processo político associado à revolução de 25 de Abril de 1974, filiando-se, ideologicamente, no socialismo comunista.
Ficou célebre a sua Canção de Ex-Cravo de Malviver (1978). Posteriormente, reflectem-se na sua obra certos motivos e mitos da história portuguesa. Escreveu os volumes de poesia O Pássaro no Espelho (1975), Amor Combate (1977), Os Dias da Serpente 81981), O Livro da Noite (1982), O Amor Infinito (1983), Paiol de Pólen (1983) e Por Outras Palavras (1990).
Salientam-se ainda os poemas de: O Livro da Noite (1982), Peixe Náufrago (1985), Mas (1987) e Vou-me Embora de Mim.
Joaquim Pessoa canta o mundo, o tempo o amor e o ser como se a vida não fosse possível sem a palavra a circular no sangue.
Em 2001, o poeta publicou Nomes, um livro que considera nunca estar acabado.

Joaquim Pessoa é o meu Poeta Preferido... Obrigada Joaquim Pessoa!!!

POEMA TEMPERAMENTAL

Ó caralho! Ó caralho!
Quem abateu estas aves?
Quem é que sabe? quem é
que inventou a pasmaceira?
Que puta de bebedeira
é esta que em nós se vem
já desde o ventre da mãe
e que tem a nossa idade?
Ó caralho! Ó caralho!
Isto de a gente sorrir
com os dentes cariados
esta coisa de gritar
sem ter nada na goela
faz-nos abrir a janela.
Faz doer a solidão.
Faz das tripas coração.
Ó caralho! Ó caralho!
Porque não vem o diabo
dizer que somos um povo
de heróicos analfabetos?
Na cama fazemos netos
porque os filhos não são nossos
são produtos do acaso
desde o sangue até aos ossos.
Ó caralho! Ó caralho!
Um homem mede-se aos palmos
se não há outra medida
e põe-se o dedo na feridas
e o dedo lá for preciso.
Não temos que ter juízo
o que é urgente é ser louco
quer se seja muito ou pouco.
Ó caralho! Ó caralho!
Porque é que os poemas dizem
o que os poetas não querem?
Porque é que as palavras ferem
como facas aguçadas
cravadas por toda a parte?
Porque é que se diz que a arte
é para certas camadas?
Ó caralho! Ó caralho!
Estes fatos por medida
que vestimos ao domingot
iram-nos dias de vida
fazem guardar-nos segredos
e tornam-nos tão cruéis
que para comprar anéis
vendemos os próprios dedos.
Ó caralho! Ó caralho!
Falta mudar tanta coisa.
Falta mudar isto tudo!
Ser-se cego surdo e mudo
entre gente sem cabeça
não é desgraça completa.
É como ser-se poeta
sem que a poesia aconteça.
Ó caralho! Ó caralho!
Nunca ninguém diz o nome
do silêncio que nos mata
e andamos mortos de fome
(mesmo os que trazem gravata)
com um nó junto à garganta.
O mal é que a gente canta
quando nos põem a pata.
Ó caralho! Ó caralho!
O melhor era fingir
que não é nada connosco.
O melhor era dizer
que nunca mais há remédio
para a sífilis. Para o tédio.
Para o ócio e a pobreza.
Era melhor. Concerteza.
Ó caralho! Ó caralho!
Tudo são contas antigas.
Tudo são palavras velhas.
Faz-se um telhado sem telhas
para que chova lá dentro
e afogam-se os moribundos
dentro do guarda-vestidos
entre vaias e gemidos.
Ó caralho! Ó caralho!
Há gente que não faz nada
nem sequer coçar as pernas.
Há gente que não se importa
de viver feita aos bocados
com uma alma tão morta
que os mortos berram à porta
dos vivos que estão calados.
Ó caralho! Ó caralho!
Já é tempo de aprender
quanto custa a vida inteira
a comer e a beber
e a viver dessa maneira.
Já é tempo de dizer
que a fome tem outro nome.
Que viver já é ter fome.
Ó caralho! Ó caralho!
Ó caralho!