Tratamos e somos tratados como móveis, movimentados de uma divisão para outra, ou simplesmente descartados e substituídos.
Há de tudo...
móveis de um designer famoso
móveis antigos e altamente valiosos
móveis das "IKEAS" da vida
Depois existe também o "tamanho e a qualidade da casa" que criamos, por capacidade ou incapacidade...
Minimalista
Clássico
Moderno
Rústico
Todos os estilos são válidos
Todos os estilos são cansativos
Na insatisfação constante, seja por inércia ou cansaço deste tempo em que não há tempo, movimentam-se os móveis, às vezes na mesma divisão, mas tirando-lhe o destaque porque existe um móvel novo, não necessariamente melhor nem obrigatoriamente pior, só que a adrenalina da novidade é irresistível.
Outras vezes vão para divisões que não são frequentadas, arrecadações ou garagens, e quando perdem a utilidade ou o encanto são deitados para o lixo.
A chatice é que estes móveis sentem.
Com o tempo eu "móvel" adquiri rodinhas, já não deixo que me desloquem, tenho a capacidade de ir embora sozinha.
Com o tempo, eu "proprietária" escolhi ter a casa quase vazia, e os meus poucos móveis são preciosos, olho para eles com encanto, sabendo que a minha casa tem espaço para mais, desde que sejam bons e para permanecer.
Claro que não existem garantias, tudo pode acontecer, existe sempre o risco de pensarmos que estamos a adquirir algo fantástico e depois percebemos que fomos ludibriados, é só uma questão de aceitar e continuar a acreditar.
Aprendi a olhar para mim como uma criação de Philippe Stark.
Aprendi que é absolutamente legítimo e não criticável, verem-me como um móvel igual a tantos outros, dos IKEAS desta vida.
Aprendi que as minhas rodinhas permitem-me ir, por pouco tempo, e escolha minha, a outras casas. A mobilidade quando bem utilizada é fantástica.
O mais importante não é como nos vêem, mas sim como decidimos vermo-nos, porque quando temos a noção do que somos, existe por consequência a obrigação de adquirir as maravilhosas rodinhas e sair por escolha nossa.
Não menos importante é perceber que às vezes estamos danificados, mas existe quase sempre (haja vontade) solução de restauro.
Sejamos empáticos e compreensivos.