Um dia escrevi um texto com o título "Amor, Paixão e Tesão", esqueci-me que antes de tudo isso existe o Encantamento, e nunca escrevi sobre o que penso desse tema, portanto cá vai uma "piquena" dissertação, num registo de raciocínio e de escrita diferente, porque eu também estou uma pessoa diferente.
Encantamento
O encantamento é conseguido quando ficamos maravilhados, deslumbrados ou seduzidos por alguma coisa que nos fascina naquele primeiro "embate".
A mim encanta-me um céu estrelado e absolutamente límpido, uma borboleta que pousa no parapeito da minha varanda, a letra e voz de uma canção, um poema recitado por alguém que o sente, um telefonema de um amigo da adolescência a fazer um convite para jantar juntamente com um grupo muito restrito, a expressão "amo-te" proferida por uma amiga... existem tantas coisas na vida que ainda me conseguem encantar.
No que diz respeito aos relacionamentos homem/mulher (o meu caso), o encantamento está em vias de extinção, ou provavelmente está extinto e eu ainda não assimilei.
Digo isto sem tristeza nenhuma, apenas alguma decepção.
Sem tristeza porque apesar de tudo já me encantei imenso na vida, e por ter vivenciado essa sensação, considero-me sortuda.
Com decepção porque como qualquer pessoa com 2 dedos de testa não desdenho uma coisa tão saborosa, que eu conheço tão bem a sensação (por memória), mas acontece que a prática de encantar é incompreensivelmente descartada.
Encantamento... encantadamente desencantada
A banalização da forma de estar do ser humano tirou-me a tes... upsss vou fazer um exercício de contenção nas palavras que escrevo
A banalização da forma de estar do ser humano tirou-me a excitação, acho que fica melhor assim.
Correndo o risco de parecer jurássica, (coisa que me estou absolutamente a cag...aiiii é difícil conter a linguagem... coisa que me estou absolutamente nas tintas), na minha opinião a prática da tentativa de acasalamento (sério, colorido ou seja lá o que for) tornou-se absolutamente desinteressante, entediante e frustrante (só para rimar).
O elogio fácil e sem conteúdo é algo que me deixa a bocejar.
Sou só eu que acho óbvio que quando duas pessoas começam a falar (com segundas ou terceiras intenções), é porque numa primeira fase sentiram alguma atração pela outra, refiro-me à atração física.
Então se assim é, porque raio são proferidas frases do tipo "és muito gira" ou então os mais atrevidos "és muito sexy"... é que não acrescenta nada, pelo contrário torna o que era suposto ser um elogio num cliché irritante, com fortes possibilidades de me provocar bocejos ou náuseas
Esse elogio faz sentido (para mim) quando já existe intimidade, e muitas vezes é fantástico durante a intimidade.
Sou só eu que acho óbvio que quando duas pessoas começam a falar (com segundas ou terceiras intenções) é para se conhecerem e perceberem se têm interesses comuns, ou simplesmente se são interessantes?
Partindo do princípio que sou uma mulher independente e não estou à procura de alguém para me sustentar, nem quero, pois isso seria abrir mão de tudo o que conquistei com enorme esforço mas muito orgulho, porque raio eu quero saber (ouvir) uma descrição do património financeiro da pessoa?
Sou só eu que fico com náuseas cada vez que recebo flores virtuais? Eu percebo, são grátis e infinitas...mas o único efeito que surtem em mim é de náuseas, ao contrário das flores naturais que andam esquecidas, como se houvesse uma preocupação em adquirir por estarem em vias de extinção...mas não estão, eu sei porque as compro para mim.
Sou só eu que acho absolutamente irritante um convite para jantar, almoçar ou lanchar (com segundas ou terceiras intenções) acompanhado com a frase "escolhe o sítio", mas já nem se sabe fazer um convite? Dá assim tanto trabalho escolher um sítio?
Se tudo se tornou tão banal e desprovido de esforço, mais vale ficar quieta.
Os elogios que me fazem feliz, já tenho felizmente, dos meus amigos e família.
Património para me ocupar o pensamento é aquele que tento construir todos os dias com o meu trabalho.
Não deixei de ter flores em casa, porque felizmente o meu QI permite-me saber onde as comprar
Sozinha ou na companhia de amigos (sem segundas ou terceiras intenções) continuo a viajar, passear e a jantar, almoçar ou lanchar em sítios giros.
Continuarei a acreditar na existência de originalidade, e capacidade de me encantar, ainda que talvez num local longínquo de mim no tempo e no espaço.